• Censo 2022 do IBGE aponta 14,4 milhões de brasileiros com deficiência, sendo 8,3 milhões mulheres.
• Grupo enfrenta maior incidência de úlceras de pressão, disfunções urinárias e sexuais, e precisa de atendimento multiprofissional e protocolos adaptados.
• Profissionais devem combater preconceitos e adaptar exames, como os ginecológicos, respeitando limitações e alergias, como ao látex.
• Políticas públicas devem garantir acesso à saúde sexual e reprodutiva, incentivo a hábitos saudáveis e o fim da invisibilidade das mulheres com deficiência.
por Dra. Alice Rosa Ramos, superintendente de Práticas Assistenciais da AACD
O último Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que há cerca de 14,4 milhões de brasileiros com deficiência e as mulheres representam a maioria dessa população: são 8,3 milhões. Esse dado evidencia a importância de uma atenção especial da sociedade para o público feminino dentro desse recorte.
A inclusão das mulheres com deficiência deve nortear o desenvolvimento de políticas públicas em geral, sobretudo as de saúde. Mais do que a acessibilidade arquitetônica dos locais de atendimento, os profissionais devem estar treinados adequadamente e comprometidos com o combate de preconceitos e estereótipos ligados a essa população.
Do ponto de vista prático, há problemas clínicos recorrentes nesse grupo, como úlceras de pressão, vaginites, osteoporose, traumas de repetição, e disfunções sexuais, urinárias ou intestinais, que exigem protocolos específicos e acompanhamento multiprofissional. Desde a prevenção até o acompanhamento de quadros de saúde, a atenção contínua e individualizada faz toda a diferença na qualidade de vida dessas mulheres. A campanha Outubro Rosa, que conscientiza sobre o câncer de mama, também deve considerar as mulheres com deficiência e a necessidade de adaptação dos exames relacionados.
Cabe aos serviços de ginecologia e obstetrícia oferecer a mesma privacidade e considerar as especificidades de cada mulher e de cada deficiência. Por exemplo, os exames ginecológicos devem ser realizados de uma forma que a paciente se sinta confortável, uma vez que algumas deficiências podem influenciar posições e tempos de permanência durante os procedimentos. O material utilizado é outro aspecto a ser observado nessas situações, pois há prevalência de reações alérgicas graves ao látex, presentes nas luvas comumente utilizadas, em determinadas deficiências, como Espinha Bífida ou Mielomeningocele.
Orientações gerais também precisam fazer parte dos esforços governamentais para a saúde das mulheres com deficiência. O incentivo à prática de atividades físicas adequadas, a promoção de hábitos alimentares saudáveis, a prevenção do tabagismo e do consumo abusivo de álcool estão entre essas recomendações.
A sexualidade das mulheres com deficiência ainda é permeada por tabus, sobretudo porque persistem visões equivocadas que negam sentimentos e desejos, assim como a maternidade. É imprescindível que todas as mulheres possam conhecer e utilizar meios para evitar as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ou gestações não planejadas, acessar métodos contraceptivos, exames e reprodução assistida, além de receber atenção integral e humanizada na gestação, parto, puerpério e em situações de abortamento.
Reconhecer e valorizar a saúde integral da mulher com deficiência significa não apenas assegurar direitos, mas também promover dignidade, respeito e cidadania. É dever de todos – Estado, profissionais de saúde e sociedade – garantir que nenhuma mulher seja invisibilizada por suas condições físicas. Afinal, quando cuidamos das mulheres com deficiência, avançamos como sociedade em direção a um futuro mais inclusivo e humano.
Repercussão na imprensa
A fim de ampliar o debate sobre o tema, a AACD se conectou à imprensa. Como resultado, este artigo de opinião foi publicado nas revistas Medicina S/A.
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